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EFEITOS PSICOSSOCIAIS DA PANDEMIA

Por Luis Alberto Santos *



O progresso da ciência e as conquistas tecnológicas transformaram a humanidade numa grande aldeia global. Este panorama deve-se em especial ao fenômeno da rede mundial de computadores (Internet) e as viagens transcontinentais com as aeronaves de última geração.

Não obstante, esta interconexão fantástica, a comunidade planetária passa por uma experiência globalizada de aspectos nocivos e compulsório. A pandemia patrocinada pela COVID-19, doença causada pelo novo corona vírus está afetando a sociedade terrena de forma tão avassaladora que a partir desta vivência o mundo nunca mais será o mesmo.

Este evento patológico contagiante globalizado está gerando efeitos colaterais inusitados nos hábitos sociais e no comportamento humano. Podemos destacar alguns Efeitos Psicossociais oriundos desta Pandemia.

- O consumismo e a ambição de boa parcela da população sofreu uma ressignificação, na medida em que as pessoas tem dinheiro mas não podem gastar, nem mesmo na prevenção desta doença;

- As famílias foram forçadas a voltarem à convivência doméstica com todos os desafios da vida cotidiana. Muitos pais desaprenderam ou nem chegaram a aprender a exercitar a chamada “educação de berço”, ou seja a educação caseira foi terceirizada para as escolinhas infantis ou para as profissionais babás.

- Os países, as classes sociais e os detentores do poder foram razoavelmente nivelados numa condição muito semelhante, isto devido a impotência de lidar com os efeitos colaterais da pandemia. Isto porque a doença é totalmente desconhecida e avança numa velocidade meteórica impedindo ações rápidas e eficazes.


- O medo e a angústia são outros efeitos psicossociais que reverberam no seio da sociedade, frente aos flagelos destruidores do Novo Corona Vírus. Este sentimento justifica-se pelo drama vivido pelas pessoas infectadas, na medida em que o sistema de saúde não consegue dar conta da demanda, além do isolamento social dos familiares, situação que pode se eternizar caso a pessoa venha a óbito, pois o velório sofre sérias restrições.


- Percebe-se um comportamento anômalo das pessoas na medida em que muitas ignoram ou subestimam os riscos de contágio, bem como, os efeitos nocivos e destruidores da doença. Estas agem como se tudo estivesse normal, e assim não aderem as orientações das autoridades em saúde, e parece fazerem tudo ao contrário, colocando em risco a sua integridade física e das pessoas com as quais poderá estabelecer contato.


- Este comportamento estranho e as provocativo pode ser entendido, em certa medida, como a manifestação de um mecanismo de defesa estudado pela psicologia denominado “Negação”. Significa dizer que diante de um perigo iminente, o ser humano se sentindo impotente para enfrentá-lo, e num átimo de sobrevivência, “finge” inconsciente que tudo isto não existe, e que as pessoas estão supervalorizando.

- Considerando que o ser humano tem uma capacidade extraordinária de adaptação, até mesmo em condições extremas de sobrevivência, parece que a sociedade perdeu a sensibilidade humana diante desta verdadeira tragédia da pandemia. Desta forma, nos acostumamos a simplesmente computar os mortos, esquecendo que as vítimas não são números, mas todas ELAS tem nomes, rostos, CPF, família e histórias.

- Evidentemente que este comportamento muda diametralmente quando somos atingidos pela doença no seio da nossa família ou dos nossos laços de afeto. Parece que confirma um adágio popular que diz: O ser humano tem dois caminhos alternativos para aprender, pelo amor ou pela dor.

- Outra situação bem interessante é a atribuição que se faz muitas vezes, ao culpar à pandemia pelos conflitos familiares com destaque para os relacionamentos conjugais, bem como outros processos estressores nas relações interpessoais noutros espaços para além do ambiente doméstico. Entretanto, sabe-se que o “problema” já existia em estado latente naquela situação, e a pandemia na verdade, veio apenas potencializar ou deflagrar como um gatilho aquela realidade mascarada até agora.


- Para encerrar as nossas reflexões, quero lembrar que o ser humano se desenvolve a partir dos obstáculos existenciais que enfrenta, na medida em que consegue bem explorar as suas potencialidades. Portanto, esta pandemia está oportunizando de maneira fantástica o desenvolvimento da ciência, da medicina, da tecnologia e também do indivíduo como um ser biopsicossocial. Que possamos aproveitar esta experiência para crescermos como pessoas e colaborar na Construção de uma Sociedade mais justa, mais solidária e consequentemente muito mais Feliz.


Luis Alberto Santos é psicólogo, palestrante e escritor. Contatos luisalberto.psicologia@hotmail.com

Julho/2020


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