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Morador da Florida constrói violão com madeira reciclada encontrada na orla do Guaíba

Marceneiro e músico pretende construir outros instrumentos musicais


Som que vem da madeira reciclada



O compositor e marceneiro, Elson Lemos, 59 anos, vem transformando restos de madeira trazidos pela água na orla do Guaíba em instrumentos musicais, dando som à madeira que iria para o lixo. Em janeiro, ele confeccionou um violão de quatro cordas. “Fiz para mostrar que temos madeiras nobres que podem e devem ser recicladas. Com elas podemos fazer diversas coisas”, disse. Sua ideia inicial era fazer instrumentos musicais para crianças carentes, mas isso exigiria uma dedicação maior, que no momento ele não tem, pois utiliza seu tempo vago para esse trabalho. Ele, que se considera pescador amador, sempre está em contato com o Guaíba. “Durante as jornadas de pesca na minha pequena embarcação, tenho observado que o estuário é um organismo vivo que joga para fora qualquer corpo estranho que não lhe é próprio. Entre as coisas que tenho visto o Guaíba “devolver” estão garrafas pet, plásticos de todas as espécies, eletrodomésticos (principalmente durante a enchente) e madeira, muita madeira”, disse.


Analisando estas madeiras, descobriu que algumas peças eram nobres, como cedro, imbuia, guatambu, mogno, canela e outros. Lemos ficou impressionado de que a grande maioria destas “devoluções” era eucalipto e descobriu então que, depois de um certo tempo debaixo da água, a madeira do eucalipto estabiliza e serve a propósitos mais nobres do que fazer paletes ou simplesmente usar como lenha.
“Foi quando tive a ideia de construir instrumentos musicais com a reciclagem destes materiais, apesar de ter quatro décadas de experiência como marceneiro eu ainda não tinha construído um instrumento de cordas do zero, apenas havia feito algumas restaurações para amigos, nada mais que isso,” observou.
Nas horas de lazer dedicadas a esta “aventura”, foram mais de 20 horas de trabalho. “O instrumento que construí tem a afinação básica de um violão, mas com apenas quatro cordas, busquei motivos náuticos para a construção, o cavalete em forma de canoa, a “caixa” no formato de um remo nativo, a boca imitando um barco, por isso batizei-o de Rêmola, com se fosse o feminino de remo”, destacou. Na construção do instrumento, usou cedro no braço e no tampo, canela na escala, laterais e cavalete, eucalipto no fundo da caixa de ressonância e com um osso fez a pestana do braço e a do cavalete.
O músico afirma que se pode fazer qualquer acompanhamento de qualquer música com a Rêmola, também pode ser usada como instrumento para solar. “Sobre a forma de tocar, qualquer pessoa que tem um conhecimento bem básico do violão toca também a Rêmola com muita facilidade, visto que seu braço (o do instrumento) é basicamente um violão simplificado”, completou.
Conforme Lemos, o objetivo final com este projeto é conscientizar as pessoas sobre a importância da reciclagem das madeiras para fins nobres, ou seja, uma espécie de “reencarnação” posto que madeira é matéria morta, mas quando transformada em instrumento musical sonoriza e traz beleza as nossas vidas e quando tocada revive novamente com todo o seu potencial. Lemos reforça que na reciclagem destas madeiras, pode-se fabricar instrumentos menos complexos, como, por exemplo, o Cajón Peruano, muito usado hoje em dia em qualquer segmento musical.
“Foi uma maravilhosa experiência com dupla finalidade, reciclar para poupar o meio ambiente e transformar matéria ignorada, perdida e jogada ao léu, em música”, conclui o Lemos, que pretende continuar com a reciclagem da madeira e fazer nos instrumentos nas suas horas vagas.

Elson Lemos e o violão

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