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Coluna de Jorge Cabral

Pai afasta de mim ese Cálice

Esta frase teria sido dita por Jesus na véspera de seu calvário, no local denominado Jardim ou monte das Oliveiras ou ainda Getsêmani. Foi pronunciada quando ele estava recolhido em prece dirigida a Deus um pouco antes de ser preso.

A frase demonstra um sentimento de pavor pelo sacrifício doloroso que sabia que estava prestes a passar, dando a nítida condição humana ante a dor e medo da imolação que se aproximava. Portanto, em súplica fez a oração, pedindo alternativamente algo que lhe desse menos sofrimento, diante do que previa que seria submetido pelo tribunal conspirador nas acusações infundadas de blasfêmia e heresia, cuja pena era severa pela lei judaica da época. No entanto, confirmava seu compromisso, mesmo sendo necessário se entregar ao holocausto, como efetivamente ocorreu.

Razão pela qual encontramos nos evangelhos que Jesus se ofertou como o cordeiro, fazendo a metáfora aos sacrifícios de sangue com animais na tradição do povo. Dizem alguns que Jesus não receou a dor pelo medo de senti-la, imprimindo-lhe a condição divina diante daquela realidade. No entanto, tal passagem descrita, menciona que neste instante Jesus suou sangue. Fato raro, mas reconhecido pela ciência médica e denominado como hematidrose, situação onde ocorre sangramento pelo suor, quando existe profundo estresse causado pelo medo. Portanto, sob a influência mecânica instintiva do sistema nervoso central simpático e parassimpático, o sangue escorre pelas glândulas sudoríparas. O que dá a certeza de ter suado sangue por medo. Chico Buarque e Gilberto Gil nos anos setenta replicam a frase na canção “Cálice” de modo ambíguo e equívoco como protesto contra o silêncio imposto pela cesura do regime militar, no sentido de calar a boca, pois muitos estavam amordaçados, sem que pudessem fazer críticas do que ocorria naquele regime de exceção, sem que não recebessem represálias. No entanto, a própria canção foi calada, por afrontar o que poderia ser dito, pelos censores verdugos, evitando no entendimento da época a subversão da ordem imposta com a castração de algumas letras de canções que denunciavam comportamentos extremados.

Assim era a era da censura tendenciosa, as quais via perigo em algumas verdades e deveriam ficar escondidas, aparentando uma realidade menos morta, às vezes pela força bruta, como consta na letra da própria canção. No entanto, tudo é cíclico, e nem sempre a força bruta vem dos uniformes militares, às vezes podem vir das togas, que utilizam do poder espúrio, para censurar e ditar o que é possível dizer, imposto pelo tribunal de estimação de alguns. Do mesmo modo da antiga força bruta, agora, não mais sob a condição física, mas psicológica, impõem inacessibilidade de comunicação e supressão de rendimentos financeiros, fragilizando e aniquilando indivíduos, numa espécie de tortura do silêncio, sem que haja outro tribunal recursal para coibir o arbítrio. Tem-se na mesma fórmula como objetivo, o afã e a gana na imaturidade do poder com o enfrentamento da divergência das posições contrárias, o que é característico da democracia. Impõe-se com o desequilíbrio ditatorial, trazendo nas mãos, agora, a caneta, que fere a liberdade, tal qual um instrumento de tortura, trazida pelas mãos do algoz.

Jorge Claudio Cabral

https://youtube.com/watch?v=NrqE4GCdiiM&feature=share&si=EMSIkaIECMiOmarE6JChQQ

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