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a sombra escrita da imagem

103. O GATO PLATÃO

Por Altair Martins



[Foto de Liane Tonelotto]

O gato Platão

não vê o que vemos do mundo:

vê sua ideia


e sua ideia escapa à ideia

de comprar um carro,

um telefone,

uma passagem de avião.


Porque o gato Platão não precisa

voar

se ele todo é voo

quando o voo é mesmo só ideia:

precede e supera o que voa.


É assim: a ideia de Platão (o gato)

é subir no telhado

e consertar o vento.


É deixar que os azuis se chupem

na completude de ser (o céu)

água e sede,

boca e palavra que diz boca.


É como o gato (Platão),

que é pata e pelo,

olho e ente:

sempre desejo e coisa desejada


e alistado ao salto,

e convocado à fome,

e filiado ao sono.


Quando o gato Platão chega ao telhado,

já se trata de um telhado

telhado pela sua ideia:

um lugar necessário

(algo de cama)

à mínima existência.

[Altair Martins]


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