Walter Galvani
Cueca, caleçon, slip
Começo dizendo, para os que não me conhecem na intimidade, mas sim pela distância automática das letras impressas, que nasci em 1934, portanto onze anos do fim da guerra que marcou a totalidade da minha geração. Consequência: uso cuecas, mas seria incapaz de utilizar a denominação nas páginas de um jornal ou revista, a menos que fosse uma publicação científica. Era, “feio” e pronto.
Como eu trabalhava num grande jornal, o “Correio do Povo” de Porto Alegre, lembro do choque nos colegas de redação, depois nos leitores e também nos que haviam permitido a publicação, quando o Ney Gastal publicou nas páginas do velho “róseo”, a palavra “cueca”.
Houve até uma pequena divisão do pessoal, entre os que achavam que o Ney, por ser filho de um consagrado jornalista da casa, P.F.Gastal, recebera uma autorização especial para usar um temo “chulo”como aquele.
Pois nem cueca, nem caleçon ou mesmo slip, em francês ou inglês tinham permissão de uso. Não podia, e pronto!
O Ney, que teria “as costas quentes” por ser filho de um ilustre colega, muito respeitado e, diga-se de passagem, “temido” companheiro, oriundo de Pelotas, tivera a coragem de enfrentar os “pais da Cultura” num grande periódico da capital gaúcha, e usar este termo que hoje milita com simplicidade e simpatia, em todos os setores das letras e da imprensa,em branco e preto (nada de “marrom”, nem outro disfarce qualquer).
Mas, não se evitou uma divisão profunda entre os prós e os contras, os acolhedores colegas que achavam até graça no emprego do substantivo que apesar do que ainda hoje, poderiam pensar diferente, nem sequer era qualitativo. Bons tempos. Estávamos nos anos oitenta. Eram cuecas e pronto. Eis o que o personagem do Ney, trajava no momento... - mesmo que completasse sua vestimenta com uma boa calça, que até poderia ser de marca “Lee” e camisa e jaqueta.
No entanto foi assim naquele ano que hoje parece tão distante e tão próximo era.
Era o tempo em que os livros eram identificados quando reproduziam cenas sexuais e postos “sob censura” na maioria dos estabelecimentos de ensino e, vamos ser claros, os de “putaria” pura, quando seus autores desciam à descrição dos mínimos detalhes de uma relação sexual.
Eram mais limitados até quando descreviam cenas de amor entre pessoas do mesmo sexo.
E a literatura atravessou incólume tais dificuldades que não foram poucas porque eram operacionais.
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Que o digam os velhos autores, alguns deles tão marcados por tais problemas, questões e censura prévia.
Mas, sobreviveram muitos deles, com as ressalvas de momento ou com as concessões ocasionais, os longos combates com a hipocrisia e vieram se arrastando até os dias mais recentes.
Aliás, eu ia escrever “atuais”, mas deixo por recentes, para provocar o reexame e a reflexão dos leitores dos 8 aos 80...
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