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Jus Postulandi

POR Patrícia Santos Martins*

E-mail patricia.mart@hotmail.com /Instagram @patricia.santosmartins


Três dias atrás, passei com meu carro por um senhor que conduzia calmamente sua bicicleta. Nas costas, uma mochila de entrega de alimentos. Acoplada na bike, uma caixa, uma bandeira, um dizer político.
Não é sobre política que pretendo escrever, mas sobre o ideal de “vida boa” que nosso inconsciente coletivo abandonou há décadas, mas que jamais deveria ser afastado das nossas mentes.
Um ideal de vida em que ao atingir um certo tempo de experiência, as pessoas pudessem se dedicar ao que gostam, sem as preocupações sobre as necessidades mais básicas da existência humana.
Em minha memória infantil, ainda há uma senhora sentada em uma cadeira de balanço ou fazendo guloseimas para os netos. Há um avô com ferramentas, em seu ateliê fazendo brinquedos e inventando moda.
Os avós de hoje, mal tem tempo e energia para as filas que devem enfrentar, não conseguem espaço para seus ateliês e as cadeiras de balanço, essas coitadas, já estão fora de moda há muito! Elas exigem espaço e no mínimo uma paisagem interessante a surgir pela janela, algo que virou artigo de luxo atualmente. A bem da verdade, jogamos fora esse ideal de vida menos sofrida quando aceitamos que reformas legislativas reduzissem direitos (trabalhistas e previdenciários) sem que nossa sociedade (ou a base dela) estivesse preparada econômica e culturalmente para essas transformações.
Quando essas alterações retiram do Estado e das categorias econômicas, vários deveres e repassam à base da pirâmide social. Não há mais ideal. Agora vemos o vovô nitidamente castigado pelo trabalho duro, andando de bicicleta, com uma mochila de entrega de refeições nas costas, pregando a liberdade econômica.

* Advogada, especialista e Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, Mestre e Doutora em Direito pela UNISINOS/São Leopoldo.


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