a sombra escrita da imagem
133. O bicho de Manabu Mabe
{Altair Martins]
Escritor e professor

MANABU MABE, Estudo, 1961, guache.
O bicho, quanto parece,
Mais dentes tem.
O bicho tem olhos e tem nariz
escondidos na cal da manhã,
com seus anúncios de febre e calafrio.
Às vezes ele tem pés
que às vezes são mãos
e outras: abstração.
O bicho segreda: todo preto usa as luvas da
escrita, todo gesto faz acento em vogal,
nem todo branco é puro, vermelhos que
convocam vontades bandidas escondem a
língua, e as formas são sempre crenças e as
crenças são as assassinas de sempre.
Também que o bicho,
este bicho sem orelhas
vaga nos espaços de outrora
que Manabu Mabe
misturava ao arroz.
Na ânsia enfática de dessignificar-se
o bicho se autossublinha
depondo sua lança vermelha.
Talvez esteja estudando, ele.
Talvez tenha nos olhos um par de gentes que
se abraça.
Talvez não seja um bicho então,
senão o bicho,
que nos pergunta.