a sombra escrita da imagem
73. Poema silencioso
{Altair Martins]
Escritor e professor
[foto de Leonardo Sessegolo]

A escrita já estava
onde um fundo qualquer
de mundo
segurava suas figuras
depois do assobio.
Estava onde a luz
emprestava os olhos
e apressava os contornos
da caça
contra o azul.
Esteve depois no barro
onde vacilavam
sentidos e sons
para a matemática e a memória
dos seres.
Escrevia (a escrita)
feita de código e linha e
e resignação: nunca pôde
ir além de sua existência
de horizonte inacabado
que aguarda o asilo e a tradução.
Desde cedo,
a escrita aceitou que não fosse
o mundo para o qual apontava
(mesmo quando apontava
pra página do nada).
E assim como uma árvore
(que não cresce pro chão),
a escrita escutou o que a fala disse
e, em silêncio,
redisse.
CONFIRA- Áudio do texto narrado pelo autor
Altair Martins : https://drive.google.com/file/d/18u8X3YuqNrKPoKpb1vHhDNW0on0WnFPw/view?usp=sharing