a sombra escrita da imagem
71. REVISÃO DA PRAIA
{Altair Martins]
Escritor e professor

Queria ter deixado pra revisar
(mais tarde) o acervo da praia
onde o inverno esteve comigo.
Mas aquela luz ferida (parece que)
continua a rezar e não se deita.
Esteve comigo o cão amarelo
que me elegeu o homem das areias
(alguém com poder nas mãos).
O cão está segurando a praia pela gola
e é por isso ela não escapa.
Pra mais tarde as outras caligrafias:
o azul maciço, a torre do salva-vidas
e o cheiro das carnes que respiram sob a água.
Reconheço que a água se recita
(até hoje) e nunca se decora.
E ao final de toda gramática
empregar os horizontes
no canteiro de nuvem sempre em obras.
Porque até lá onde montam guarda
os horizontes sempre estão a postos.
Mas é que recordo o cão amarelo:
ele deitou à espera do assobio
e assim assim apagou todas as datas.
Só temo que o sopro faça cair a tarde
dentro da tarde que não passa.
Confira o áudio do texto de Altair Martins:https://drive.google.com/file/d/1LZKL-EsreLrnh-ExXqWDe_0588BpCDyv/view?usp=sharing