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a sombra escrita da imagem

58. Carta ao meu vizinho, Walter Galvani

{Altair Martins] Escritor e professor


Vizinho,

apesar da distância de nossos tempos

(falo da minha idade e da tua),

ficará um buraco

onde estava o teu humor

refinado como um açúcar.


Sei que a inteligência dos teus olhos

deixará um rastro:

eu piso justamente nessas marcas aí

e não para apagá-las,

mas para te ouvir mais um pouco

agora que tenho frio.


Porque o inverno chega

assim que tu que partes.

Ficamos pequenos aqui nesta cidade que dói.

Mas sabemos teu endereço

(mesmo os que não te foram vizinhos):

aprendemos algo de leitura

nos livros que teu nome abre

e no cheiro dos jornais

onde dedilhavas a vida.


Posso dizer agora, porque nunca disse,

que nunca perdeste a classe

escrevendo ou falando ou caminhando

ou existindo.

Assim que soubemos da tua partida

tentamos fazer o mesmo,

buscando aquele teu riso

enquanto segurávamos este silêncio que escorre.


Tua Nau Capitânia te espera,

e imagino que salte da tua cabeça

alguma frase que faça rir


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