Dia desses, vendo as lembranças do Facebook, me deparei com um post escrito por mim há cerca de 10 anos, que falava sobre as discussões frequentes entre defensores do frio x defensores do calor. E sabem o que eu senti? Saudade daquela época. Uma certa nostalgia do tempo em que podíamos debater coisas bobas na internet, sem sermos patrulhados por uma quantidade significativa de comentários extremistas. Se hoje postamos algo desse tipo, recebemos manifestações dos defensores ambientais com teses e mais teses, surgem os odiadores das pessoas que amam o frio, assim como os odiadores das pessoas que amam o calor.
Alguns se manifestarão dizendo que o aquecimento global é culpa de quem gosta de calor.Outros dirão que pessoas morrem nas ruas todos os dias por culpa de quem gosta de frio. Como se não fôssemos todos responsáveis pelo aquecimento global e as pessoas morrerem de frio nas ruas não fosse uma questão de políticas públicas. O que acontece atualmente nas redes sociais é uma polarização excessiva. Aliás: tudo lá é em excesso. Desde o potencial desagregador dos comentários até o extravasamento exagerado das emoções. As pessoas não estão dispostas a interagir para agregar. Elas focam a energia na tentativa de tirar de dentro delas as emoções que estão sufocando, independente da forma como isto irá impactar na saúde mental do outro.
Parece que não há espaço para o meio termo, para manifestações moderadas. Precisamos nos posicionar radicalmente a respeito de qualquer assunto: seja política, futebol, religião, café com açúcar ou sem, frio ou calor – e aqui não há espaço para outono ou primavera, vejam bem. Como assim vocês não têm opinião formada sobre absolutamente todos os assuntos? Como assim tu não pesquisaste sobre Israel x Palestina? Mesmo que não seja do teu interesse, pesquisa lá, as redes precisam saber da tua opinião para te avacalhar. Porque pode ter certeza de que quem não concordar com tua opinião irá fazer isso.
Nos tiraram a leveza de debater sobre amar o frio x amar o calor. Nos tiraram a alegria de dar boas risadas sobre as bobagens da vida e, importante, aqui não falo absolutamente nada sobre desrespeitar o próximo. Eu falo sobre conversar sobre assuntos banais, interagir com leveza, sobre ter o direito de não saber ou querer opinar. Dito isso, se me permitem: como não conseguem gostar de pastel frio no café da manhã?Natália Carvalho, Publicitária, Mestra e Doutoranda em Comunicação\naticarvalhoo@gmail.com\ @nnaticarvalho
O texto acima expressa a visão do(a) colunista, não necessariamente a do Jornal Nova Folha Regional
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